sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Problema é antigo...

Artigo Postado Blog do Villa em 12/11/2010

A idéia dos discursos e a falta de idéias


Este meu artigo foi publicado na "Folha de S. Paulo" em 27 de dezembro de 2006. Criticava a inoperância e a falta de idéias da oposição. Nota-se que o problema é antigo.
A DIVULGAÇÃO pública da agenda de trabalho do presidente da República é um fato a ser louvado. Significa que o Poder Executivo deseja dar publicidade aos seus atos. Dessa forma, causa estranheza que Gilberto Carvalho, chefe do Gabinete Pessoal do presidente, não considere que a agenda revele o cotidiano de trabalho de Lula. Mais do que o registro de trabalho, apresenta as prioridades do governo, sua forma de atuação e o compromisso com as questões mais relevantes do país.
Pela análise dos dez primeiros meses deste ano, a agenda presidencial revela absoluta falta de diretriz. Em alguns dias, lembra mais as atividades de um líder sindical do que as de um presidente da República. E isso está revelado no site da Presidência (http://www.info.planalto.gov.br/).

Convido o leitor a acessar o site e verificar se as informações utilizadas no artigo que escrevi e que foi publicado no dia 29 de novembro neste mesmo espaço são "falsas" e "inverídicas", se houve "má-fé" e "desonestidade" ou se "menti", como escreveu Carvalho dias depois ("Tendências/Debates", 15/12).

Se o governo fosse atuante, não seria necessário perguntar aos jornalistas do Palácio do Planalto sobre as atividades presidenciais: todo mundo estaria sabendo, bastaria olhar as obras espalhadas pelo país, o combate à corrupção e o país crescendo no ritmo histórico dos 80 primeiros anos do século passado. Mas, infelizmente, estamos mais próximos da estagnação do que de um período de crescimento sustentável.

A inoperância governamental é tão acentuada que o próprio presidente confessou -após as eleições, claro- que não sabe o que fazer para que o país cresça 5% ao ano.

Como não consegue desenhar o futuro, Lula vai ao baú da história e retira de lá a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) como solução para os graves problemas do Nordeste. Se a sua criação em 1959 foi um passo adiante em termos de política pública para a região, recriá-la no século 21, quando outros paradigmas são colocados pela globalização, é mais um ato de irresponsabilidade política, de ausência de propostas, de pensar o novo.

Seria como se Getúlio Vargas, em meio à maior crise vivida pelo Brasil, no início dos anos 30, em vez de lançar uma nova política de defesa do café, com a queima dos estoques, resolvesse recriar o Convênio de Taubaté.

Mais do que o absenteísmo, o que caracteriza a agenda do presidente Lula é o clima permanente de campanha eleitoral, é a necessidade da exposição pública permanente, como se o trabalho no gabinete, a leitura de relatórios e de livros, a reunião com ministros ou o acompanhamento dos principais projetos governamentais, como se tudo isso fosse algo absolutamente irrelevante.

A pobreza da agenda revela-se não só nos atos do governo mas também nos pronunciamentos públicos.

Uma marca de Lula é a transformação do exercício da Presidência numa atividade doméstica. Nos discursos, conta episódios da sua vida, apresenta o que considera ser lições de moral, fala da mulher e inevitavelmente cita a mãe (só em abril de 2003, foram cinco menções: dias 4, 8, 9, 26 e 30).

E isso em atos absolutamente distintos, como na inauguração da Alunorte, na assinatura de ato que visava regularizar favelas ou na abertura do seminário Brasil-China.

Já a esposa, dona Marisa, no mesmo mês foi citada em dois discursos (dias 7 e 22), também numa situação pouco usual, como na inauguração do alto forno da siderúrgica de Tubarão.
Como o país deve ter um crescimento abaixo dos 3%, imagina-se que o presidente esteja preocupado com os relatórios do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) informando que o crescimento de 5% só poderá ocorrer na próxima década.

Mas não. O presidente Lula não teve sequer a curiosidade de chamar os técnicos ao Planalto para ouvi-los.

Preferiu uma agenda mais amena, como o encontro com os movimentos sociais ou a participação da entrega do prêmio Gestor Eficiente da merenda escolar.
Sem falar nas constantes viagens a São Paulo para discursar nas cerimônias de entrega de prêmios de revistas aquinhoadas com farta propaganda oficial.
A ausência de propostas inovadoras não é um patrimônio do governo. A oposição, que nem sequer consegue acompanhar as atividades governamentais, menos ainda faz em relação à elaboração de um projeto alternativo para o país. Mais do que um problema do governo ou da oposição, a ausência de idéias representa uma crise da elite política.
Gilberto Carvalho não é o responsável pela desorganização governamental. É um mero funcionário.
Cumpre ordens. É disciplinado, como foi na prefeitura de Santo André. A linguagem desabrida que usou neste espaço demonstra que o presidente e os petistas se sentem anistiados pelas urnas. E que não pretendem mudar. Farão o segundo governo como o primeiro. Pena. Quem perderá será o Brasil.

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