LUIZ GARCIA
Costuma-se dizer, numa espécie de ironia triste e um tanto banal, que o maior inimigo do homem é o próprio homem. Tragédias coletivas, como as produzidas pelas chuvas deste verão, parecem confirmar em parte essa visão pessimista.Para os profetas da tragédia, estamos — possivelmente ou provavelmente, dependendo do pessimismo de cada um — condenados a repetir o destino dos dinossauros, que dominaram o planeta durante zilhões de anos e desapareceram no fim do período Cretáceo, quando um meteoro grandão atingiu a península de Yucatán, causando a morte de 90% da vida vegetal e 70% da vida animal.
Os profetas com certeza exageram. Mas episódios como a tragédia anual das chuvas nas encostas do Sudeste brasileiro — principalmente nas do Estado do Rio — mostram que, diferentemente dos dinossauros, está ao alcance do homem defender-se de muitos dos desastres naturais que podem ameaçá-lo.
Não há qualquer dúvida de que a reação às chuvas desde verão — e como aconteceu em outros anos — foi a melhor que se poderia esperar. Não faltou solidariedade, e principalmente não faltou ajuda.
O que faltou foi previsão. É mais do que sabido que a serra fluminense é altamente vulnerável a chuvas fortes. Os fatores geológicos são conhecidos, assim como aqueles associados à ocupação das encostas pelo homem. Não há como impedir a chuva. Mas havia como proteger a população: a ocupação das áreas de riso não era, ao contrário do fenômeno natural, inevitável.
A grande maioria das vítimas das tragédias anunciadas pelo calendário não tinha outra opção de moradia. Não se tem notícia de que, em algum momento, o Estado lhes ofereceu qualquer alternativa. É verdade que as águas de janeiro não pouparam também famílias com recursos e com informação suficientes para se prevenirem e se defenderem. Cada um sabe, ou deveria saber, o preço de seu otimismo.
Seja como for, a ocupação do solo é responsabilidade do Estado. E este — entra governo, sai governo — tem a obrigação primária de, em parte, impedir tragédias sazonais. Nem todos os anos elas acontecem, mas o risco existe sempre.
Não há restrição alguma à qualidade e às dimensões da resposta, do Estado e da sociedade, à tragédia deste ano. Dez para a reação. Mas que nota vamos dar à falta de previsão?
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